Suspeitos de integrar uma facção criminosa, alvo da maior operação já realizada no Rio Grande do Sul, ostentando carros de luxo, mansões, festas e até um avião utilizado para transporte de drogas.
A operação ocorreu na última terça-feira (19) e apreendeu mais de R$ 50 milhões em dinheiro e bens, além de prender 58 suspeitos no RS e no Paraná. O alvo é um grupo especializado em lavagem de dinheiro e que possui conexões com traficantes da Bolívia e do Paraguai.
Em uma mansão de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, a polícia prendeu provisoriamente um dos chefes da quadrilha, Maurício de Souza Konzen. Imagens mostram o homem usando uma tornozeleira eletrônica enquanto estava na piscina do imóvel. A Defensoria Pública diz que só vai se manifestar nos autos do processo e aguardar se o suspeito será atendido pela instituição ou por um advogado particular.
Em Porto Alegre, a polícia também entrou em residências de alto luxo utilizadas pela facção. Em uma delas, um bar impressionava pela quantidade de bebidas, além de relógios, correntes de ouro e revólveres.
Em outro imóvel, Larissa Pascoal da Silva foi presa em um apartamento. No local, foi encontrado um urso de pelúcia com mais de R$ 40 mil no interior do objeto. A defesa da suspeita diz que não teve acesso ao processo e que só vai se manifestar nos autos.
A mulher costumava enviar vídeos dirigindo carros para o companheiro, Thiago Silva Cruz, outro chefe da facção, que já estava preso. Em relação a ele, a Defensoria Pública afirma que só vai se manifestar no processo.
Dinheiro encontrado dentro de urso de pelúcia durante operação no RS — Foto: Reprodução/RBS TV
Aviões
Conforme a Polícia Civil, o grupo usava até aviões para trazer drogas ao Rio Grande do Sul. Era comum que as aeronaves sobrevoassem locais públicos. Em uma troca de mensagens, um dos pilotos chega a combinar com Thiago um sobrevoo sobre a penitenciária em que estava.
"Manda a localização aí, que eu vou passar voando aí em cima daqui a pouco", diz o áudio.
Um dos responsáveis pela investigação, o delegado Gabriel Borges, destaca que a atitude é uma forma de demonstrar poder.
"Um sobrevoo em cima de uma casa prisional, com uma aeronave carregada com drogas, é sim uma forma de tentar demonstrar o poder que esse crime organizado tem conseguido lograr nos últimos tempos, e também de certa forma de se afrontar o próprio sistema de justiça no sentido de que eles confiam na sua atuação e que não serão pegos", aponta.
Esquema
Imóvel de suspeito de integrar facção criminosa no RS — Foto: Reprodução/RBS TV
A investigação sustenta que a quadrilha montava departamentos para cuidar das operações. O tráfico de cocaína, segundo a polícia, era a principal atividade do grupo.
"A atuação da facção é empresarial. Então, essa capilaridade deles é muito grande no Sul do Brasil, podemos dizer isso. Tanto no narcotráfico, como nos crimes patrimoniais -- importante frisar: roubo de veículo, roubo, tudo isso. Eles buscam esses crimes que dão lucro, pegam esses valores e lavam esses valores. Dissimulando, ocultando. Abrindo negócios, comércios. Comprando veículos, comprando imóveis, terrenos", explica Mário Souza, diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana.
A polícia encontrou provas de que a facção já estaria em contato com traficantes da Bolívia, ligados ao cartel mexicano de Sinaloa. Os bolivianos usavam até submarinos para enviar drogas para o México e os Estados Unidos.
"O que elas buscam é se consolidar com a busca de droga direta na Bolívia para o Rio Grande do Sul e Sul do Brasil, e também eles já têm movimentos para começar a fazer uma colocação de drogas também em outros países", destaca Souza.
O dinheiro da venda dos entorpecentes financiaria a compra de armas, que podiam ser usadas pela própria facção ou alugadas para assaltos e roubos.
"São armamentos de grosso calibre inclusive. Armamentos restritos. Muitos que são utilizados unicamente pelas Forças Armadas", detalha o delegado Gabriel Borges.
Para lavar o dinheiro do tráfico e dos roubos, a facção investia em pedras preciosas, diz a polícia. Além disso, o grupo contava com um esquema de falsificação de documentos e de adulteração de carros roubados para vendê-los em concessionárias.
Audiências sabotadas
Ainda, a organização chegou a utilizar bloqueadores de sinais para soltar integrantes em prisão provisória. O aparelho bloqueava o sinal de videochamadas utilizado pela Justiça, forçando o adiamento de audiências.
"Era justificado que não havia como prolongar um pedido de prisão provisória de um indivíduo em razão de problemas técnicos", explica o delegado Gabriel Borges.
Cerca de 1,3 mil agentes participaram da operação, em 38 cidades de quatro estados.