A Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai encontrou dois hectares de roças de maconha na Estância Agro Canaã, na zona rural de Cerro Corá, povoado localizado a 40 km de Ponta Porã (MS). A propriedade pertence ao empresário sul-mato-grossense Marcel Martins Silva, 35, preso no dia 15 de maio deste ano no âmbito da Operação Prime, da Polícia Federal.
Apontado como chefe da organização criminosa de tráfico internacional de cocaína, Marcel é sócio da Efraim Construtora e da Primeira Linha Acabamentos, ambas localizadas em Dourados e que, segundo a PF, eram usadas para lavagem de dinheiro das drogas.
O irmão dele, Valter Ulisses Martins Silva, 27, segundo na linha de comando da organização, também teve prisão preventiva decretada no âmbito da Operação Prime, mas segue foragido. Marcel está preso.
Nesta quarta-feira (24), equipes da Senad fizeram buscas na fazenda. Segundo a imprensa paraguaia, havia informação de que Valter estaria escondido no local, mas a agência antidrogas não revelou se de fato procurava o brasileiro.
Em nota enviada hoje, a Senad informou que equipes da Regional de Pedro Juan Caballero estiveram na fazenda para averiguar denúncias de atividades ilícitas na propriedade. Chefiados pelo promotor de Justiça Celso Morales, os agentes cortaram e queimaram o cultivo de maconha, em fase de crescimento.
Não foi informado se a erva foi plantada recentemente ou se já tinha sido semeada quando a operação foi desencadeada há 70 dias. Segundo a Polícia Federal, a Agro Canaã era usada para lavagem de dinheiro. Transferências e depósitos foram feitos de contas da estância para as empresas de Marcel em Dourados.
Além das roças de maconha, os agentes da Senad e o promotor de Justiça encontraram na fazenda uma colheitadeira, um trator, documentos e planos de voo de aeronave com matrícula brasileira. “Suspeita-se que a propriedade servia de base para produção e tráfico de maconha”, informou a agência.
Cocaína por satélite
Investigação da Operação Prime revelou que os irmãos Marcel e Valter Ulisses compravam cocaína diretamente de fornecedores peruanos e rastreavam as cargas por satélite para impedir desvios.
Diálogos entre Valter e o contato “Rastreio Satelital” detalham o sistema usado para monitoramento de caminhões que transportam cocaína. Segundo a PF, a organização instalava equipamentos de rastreamento nos veículos para indicar a localização exata, tanto no Brasil quanto no Paraguai.
O contato “Rastreio Satelital” é apontado como o responsável em disponibilizar para Valter Ulisses Martins uma plataforma para acompanhamento dos veículos pelos rastreadores da organização.
Entre os integrantes que agiam como rastreadores, a Polícia Federal identificou Wagner Germany, Vagner Antonio Rodrigues de Moraes e Paulo Antonio da Silva Viana, o “Sarita”, também alvos de mandados de prisão em maio.
Motinha
Os irmãos Martins também são ligados a Antonio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, conhecido como “Motinha” e “Dom”, importante traficante da linha internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero e que está foragido após escapar de três operações da PF.
Conforme os investigadores, Marcel Martins desempenhava papel de liderança e comando da organização e Valter cuidava da logística e contato com fornecedores e outros operadores.
Depois de cumprir pena por tráfico no Paraná, Marcel se instalou em Dourados, onde mora em condomínio de alto padrão e levava vida “acima de qualquer suspeita”.
Na maior cidade do interior de MS, é sócio de duas empresas – a Efraim Incorporadora e a Primeira Linha Acabamentos. Os sócios deles nas empresas, Alexander Souza (do Paraná) e Carlos José Alencar Rodrigues, respectivamente, também estão presos.
Entre fatos pitorescos descobertos pela PF está o lado benevolente de Marcel Martins, que pagava dízimos mensais de até R$ 86 mil para a igreja evangélica que frequentava com a esposa, Evelyn Zobiole Marinelli Martins. Ela também é investigada.
Segundo a PF, os irmãos Martins são de fato os proprietários da Primeira Linha Acabamentos, da Paris Construtora, Israel Construtora, Efraim Construtora, Transfort e Agrocanaã S/A.
“Os irmãos Martins possuem uma vasta rede de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio composta por suas empresas e funcionários”, cita a Polícia Federal, que identificou 46 imóveis de Marcel e Valter em território brasileiro e no Paraguai.