Comerciantes de Mato Grosso decidiram fechar seus estabelecimentos nesta semana em apoio às manifestações bolsonaristas que tomaram as estradas do estado. A “greve” contra os próprios negócios se concentrou em cidades do norte mato-grossense, como Sinop, Lucas do Rio Verde e Sorriso, onde um pai precisou brigar com um manifestante para seguir viagem com o filho que passaria por uma cirurgia no olho em Cuiabá. O menino de nove anos havia sofrido um acidente na escola e corria o risco de ficar cego.
A capital do estado não ficou de fora da onda de solidariedade que se formou em torno dos atos golpistas. Entre 12 e 16 de novembro, um clube de swing, que se mostrou alinhado à tendência, decidiu fechar as portas, em protesto contra o resultado das urnas.
O anúncio foi feito nas redes sociais da Fire Club, casa liberal localizada no bairro Shangri-lá que possui 1.474 seguidores só no Instagram.
“Diante do momento que nosso país atravessa e em respeito às manifestações, estaremos fechados. Voltaremos normalmente na próxima semana. Agradecemos os clientes e amigos pela compreensão.”
A postagem recebeu 85 curtidas e alguns comentários, a maioria em apoio.
“Isso sim é uma demonstração de respeito”, escreveu um seguidor que se identifica como um casal liberal em busca de novas amizades com mulheres e outros casais.
Outro casal, que tem na foto uma mulher de costas com a bunda empinada, endossou o post com dois emojis de palminha.
Um seguidor também parabenizou a iniciativa com palmas e emoji da bandeira do Brasil. Dele pouco se sabia, a não ser que era uma pessoa de “fé” — essa era a única palavra que o definia na descrição do perfil.
“Deus, pátria, família e swing”, comentou uma usuária em tom de deboche.
Parte dos comentários foi apagada após um pedido de entrevista encaminhado por este blog a um número de WhatsApp disponibilizado na página. (Este texto será atualizado caso os donos da balada retornem os contatos da coluna ao longo do dia).
Um dos comentários perguntava, em tom de ironia, quando os casais patriotas poderiam voltar às surubas na casa.
Ao menos na página daquele clube, sexo e política se misturam, sim.
O clima suingueiro-patriótico, liberal na economia e nos costumes também, estava no ar entre os frequentadores da casa desde as vésperas da eleição.
No dia 27 de outubro, três dias antes do pleito, rolou ali a festa “Patriotas”, com entrada “free” para quem vestisse verde e/ou amarelo.
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caiu como um balde de água fria no chope dos frequentadores.
Em 9 de novembro, por exemplo, a página já havia anunciado que não estava para festas e avisou que não iria atender ninguém naquela noite. Uma foto com a bandeira do Brasil acompanhava a mensagem.
O último evento divulgado no perfil foi a festa “F*de com força”, no dia 5. Depois, silêncio.
Após a pausa para luto, a ideia era que as atividades fossem retomadas no dia 17, mas a casa permaneceu fechada “por motivos de força maior”, conforme um comunicado postado na véspera — desta vez sem menção à bandeira, mas com a foto de um homem sarado sem camisa.
Uma semana depois, enquanto lojistas do estado cruzavam os braços à espera de uma intervenção federal, as atividades na Fire Club já haviam sido retomadas — não sem protestos.
No dia 23, a casa organizou uma festa com um nome peculiar: “A p*taria só tá começando”.
E, num aparente trocadilho com uma frase recorrente da base bolsonarista, segundo a qual a chegada de Jair Bolsonaro (PL) ao poder representava o fim da “mamata”, a Fire Club criou a festa “Voltou a mamada”, com direito a show de striptease, DJ e sexo no palco. A festa estava marcada para a noite de quinta-feira (24), dia da estreia do Brasil na Copa.
Pelo grau de engajamento — 103 curtidas e diversos comentários com emojis de diabinhos e olhos de coração — a noite prometia.