
O que é a perda gestacional?
Em termos médicos, a perda gestacional ocorre quando o feto tem menos de 20 semanas ou é menor do que 500 gramas. Existe ainda o termo “perda gestacional tardia”, que caracteriza o falecimento do bebê após 24 semanas de gestação.
Os motivos para que esse tipo de perda aconteça são inúmeros e vão desde malformações genéticas incompatíveis com a vida até doenças sofridas pela mãe, bem como traumas físicos e psicológicos.
De acordo com o estudo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology as mulheres experimentam altos níveis de estresse pós-traumático, ansiedade e depressão após a perda precoce da gravidez. O sofrimento diminui com o tempo, mas permanece em níveis clinicamente importantes aos nove meses.
Ou seja, o estudo evidencia que um ano depois de uma perda gestacional (gravidez ectópica ou aborto espontâneo) uma em cada seis mulheres tem estresse pós-traumático. No primeiro mês depois da perda, 29% delas preenchem critérios para estresse pós-traumático, 24% apresentam ansiedade moderada a grave e 11% sofrem depressão moderada a grave.
Embora o sofrimento decline com o tempo, permanece significativo. Depois de nove meses, 18% sofrem estresse pós-traumático, 17% têm ansiedade moderada a grave e 6% têm depressão moderada a grave.
É fundamental a atenção à saúde mental das mulheres que passam por perda gestacional. Infelizmente muitos profissionais não estão alertas para o impacto da perda e tentam minimizá-la com palavras e expressões inadequadas. Não há nenhum conforto em dizer “era apenas um embrião/feto”, “ainda bem que foi no comecinho”, “melhor do que vir um filho com deficiência” são todos comentários que não consideram a dor da perda quando a mulher já significou como “filho” aquela gestação. Essas frases não consolam.
É fundamental ter empatia com a dor e respeitar o luto, dando suporte emocional e estando atento à presença de depressão, ansiedade e sintomas de estresse pós-traumático nos meses que se seguem.
Os especialistas em psicologia não costumam tentar mensurar a dor do próximo, mas existe uma opinião quase unânime entre muitos deles: o luto materno pode ser considerado uma das maiores dores do mundo. Entre as várias questões que envolvem essa ruptura está o fato de a mãe, diante da visão imposta pela sociedade, exercer o papel fundamental de cuidar e proteger o filho. Com a perda, o sentimento de fracasso nessas funções acaba por se sobressair.
O luto é singular para cada mãe. Apesar de ser intenso, não vai ser toda mãe que vai responder da mesma forma à perda de um filho, vai depender de muitos outros fatores. Mas é certo que a superação passa, e muito, pelo reconhecimento da dor. O primeiro passo para superar é reconhecer que, de fato, a saudade vai ser grande e que o sofrimento vai existir.
FONTE: Journal of Obstetrics and Gynecology