Menu
Terça, 16 de abril de 2024

Falta de chuva prejudica plantio e impõe dificuldades à safra atual em RS

Não terá chuva com grande volume nos próximos dias

26 de nov 2020 - 08h:45 Créditos: Roberta Ferreira
Crédito: Divulgação

Com a falta de chuva novamente castigando o solo, o Rio Grande do Sul não deverá alcançar os seis milhões de hectares previstos para serem colhidos com soja no ciclo 2020/2021. E, ainda que consiga semear, o risco de perdas e menor produtividade é grande.

Apenas neste ano os produtores do Estado já foram indenizados com mais de R$ 1 bilhão por sinistros nas lavouras cobertas pelo seguro rural e perdidas pela estiagem que marcou o final de 2019 e o início de 2020.  

Estimulados pelos bons preços da soja, os agricultores deve aproveitar qualquer ocasião para plantar. Hoje, no entanto, a realidade é de máquinas paradas e apenas metade da área normal já recebeu sementes, avalia a Aprosoja/RS. Depois da estiagem de 2019, o agronegócio agora teme o clima e os efeitos do La Niña.

Com o solo seco, o trabalho fica inviabilizado em boa parte do território gaúcho e quem semear agora tem grandes chances de não ver a planta germinar. De acordo com Décio Teixeira, presidente da Aprosoja/RS, nem mesmo quem conta com pivôs de irrigação está a salvo.

“Tem produtor com pivô seco na lavoura, porque não há água. Os reservatórios já vinham enfrentando problemas e isso só se agravou. A última chuva consistente registrada no Estado foi em 20 de outubro. A situação é tensa”, diz Teixeira.

Para José Domingos Teixeira, o coordenador do núcleo da Aprosoja/RS em Tupanciretã, município com maior área destinada à cultura, somente cerca de 30% da área prevista foi semeada até agora. E até 50% disso poderá precisar de replantio. Domingos, que monitora o andamento da safra em todo o Estado, calcula que nesta época o normal seria ter 70% plantado se levado em consideração a média dos últimos cinco anos.

Apesar de previsão de precipitações previstas para a próxima semana, o solo seco drena rapidamente o que vem do céu. E, pelo monitoramento da Aprosoja, o agricultor gaúcho não deverá contar com chuva com mais volume antes do dia 19 de novembro.

De acordo com estimativas da Secretaria da Agricultura do Estado são previstos entre cinco e 10 mm na maioria das regiões. No Alto Uruguai, Planalto, Serra do Nordeste e Litoral Norte, os valores oscilarão entre 20 e 35 mm e poderão superar 45 mm nos Campos de Cima da Serra.

“Até que venha a chuva ainda temos quase duas semanas. E para a soja, a melhor janela de plantio, por produtividade, é até próximo dia 21”, alerta Domingos.

O presidente da Aprosoja complementa afirmando que até o dia 8 de dezembro ainda é possível ter uma produtividade razoável em algumas partes do Estado, mas já no limite. Teixeira conta que com o calor excessivo desde outubro em algumas regiões já levou inclusive registros de máquina pegando fogo na lavoura.

“Por isso também tem produtor evitando colocar o equipamento na terra, forçar a máquina e perder o bem”, explica Teixeira.

Márcio Ucker, consultor em gestão, economia e fomento da produção agropecuária da Epagre, de Ibirubá, acrescenta que o milho plantado entre agosto e setembro já seca nas lavouras.

“Aqui na região o milho preocupa desde agora. O plantio é destinado principalmente para alimentar o rebanho bovino, e já trabalhamos com a perspectiva de um grande problema de novo, inclusive para a produção de leite”, acrescenta Ucker.

De acordo com a Emater, até a semana passada o plantio vinha avançando e alcançava 17% da área prevista e acima da média anual. Nos últimos dias, porém, a entidade avalia que o cenário pode ter mudado, para pior.

“O levantamento divulgado nesta semana é sobre dados da última semana de outubro. De lá para cá avançou o plantio e mudou o cenário”, explica Rogério Mazzardo, gerente de planejamento da Emater e diretor-técnico interino.

Estael Sias, meteorologista da MetSul, ressalta que a estiagem está apenas no início e que a falta de umidade no solo começou mais cedo em 2020. No ano passado, como outubro foi mais chuvoso, neste período a terra estava preparada para a semeadura.

“Neste ano a chuva reduziu ainda em outubro, sem umidade especialmente na Metade Norte para fazer o plantio. E os prognósticos não indicam chuva suficiente nas próximas semanas para reverter esse quadro”, antecipa Estael.

O produtor que conseguir aproveitar as precipitações esparsas na semana que vem ainda terá que lidar com o déficit hídrico logo adiante, com impactos no desenvolvimento da soja e do milho.

“Esse será um ano muito seco. Alguns prognósticos indicam chuva acima da média lá por janeiro, mas apenas em algumas regiões”, pondera a meteorologista.


Deixe um comentário


Leia Também

Veja mais Notícias