
Um consultor de Glaidson Acácio dos Santos, preso por um esquema ilegal de bitcoins, afirmou em uma conversa interceptada com autorização da Justiça há um mês que investidores aportavam, por hora, R$ 2 bilhões nas contas das empresas — mesmo assim, se disse tranquilo sobre possíveis bloqueios judiciais.
“Ah, se bloquearam as contas? Hoje não, risco nenhum, em conta nenhuma. Eles olham e não tem dinheiro”, disse Michael de Souza Magno, um dos consultores de Glaidson.
Michael revelou a estratégia à interlocutora, que não foi identificada pela Polícia Federal (PF): “De dez em dez minutos, entra uma menina na conta do Banco do Brasil e transforma todo o saldo que tem em criptomoedas.”
“Hoje, para você ter uma ideia, entra uma média de dois bi a cada hora na conta da empresa”, destacou.
O telefonema foi dado dias antes da Operação Kryptos, que prendeu Glaidson e um sócio, Tunay Pereira, em 25 de agosto. Michael é considerado foragido.
A PF pediu à Justiça e obteve o bloqueio de R$ 38 bilhões que teriam passado pela GAS Consultoria Bitcoin desde 2015. A decisão atinge quatro contas da GAS e mais outras em nome de Glaidson, Mirelis e sócios.
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Glaidson em viagem a Frankfurt, na Alemanha — Foto: Reprodução
Empresas no exterior
Policiais e procuradores suspeitam ainda que Glaidson e seus sócios no mercado de criptomoedas abriram contas e empresas em outros países. As operações não foram declaradas à Receita Federal.
A suspeita é que o dinheiro usado seja de pessoas que aplicaram na empresa esperando lucros com a compra de criptomoedas. A força-tarefa concentra as investigações nos Estados Unidos, Emirados Árabes, Portugal, Uruguai, Colômbia e Malta.
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Dinheiro em envelopes apreendidos na casa de Tunay, sócio de Glaidson — Foto: Reprodução
As aplicações da GAS Consultoria foram consideradas irregulares pela PF. As suspeitas de gestão temerária e desvio dos investimentos se reforçaram quando a PF apreendeu dinheiro de investidores na casa de Tunay Pereira Lima, sócio de Glaidson.
Em cada envelope havia o nome de Tunay, do investidor e da data da aplicação, o que foi considerado “rústico” pelos investigadores. O controle de investimentos era feito apenas em planilhas de Excel.
Glaidson está preso no complexo penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Na quinta-feira (23), ele e mais 21 pessoas foram indiciadas pela PF por crime contra o sistema financeiro e organização criminosa.
De acordo com as investigações, Glaidson começou a investir em criptomoedas em 2015, incentivado pela mulher, a venezuelana Mirelis Zerpa.
Em 2017, passou a adquirir joias. Em 2018, viajou a Israel, Itália e Portugal.