Cerca de um ano após agredir uma mulher que estava algemada na delegacia de Bonito, o segundo-tenente da Polícia Militar, André Luiz Leonel foi condenada a um ano, cinco meses e 10 dias de detenção em regime aberto.
O outro Policial Militar que estava presente, Oswaldo Silvério da Silva Júnior, também foi penalizado com sete meses e seis dias em regime aberto por prevaricação. Ele estava presente no momento das agressões e não reportou o ocorrido ou efetuou a prisão em flagrante do colega.
As sentenças foram lavradas pelo juiz Alexandre Antunes da Silva, da Vara de Auditoria Militar, que considerou lesão corporal leve e injúria estando em serviço. Os réus ainda podem recorrer da decisão.
O vídeo que ganhou repercussão nas redes sociais mostra o policial agredindo a vítima - tratada como suspeita pela PM - com chutes e socos. A mulher, de 45 anos, estava sentada em uma das cadeiras do quartel da PM.
Ao Correio do Estado, ela relatou que considerou a pena favorável ao policial e que as penalidades são 'muito brandas para este tipo de crime'.
'Infelizmente, a única prejudicada de toda essa história fui eu, porque isso abalou muito a minha vida. Eu fiquei presa mais de 365 dias na minha casa, não saindo para os meus afazeres, passando por médicos, psicólogos, tomando remédios antidepressivos, internada várias vezes por depressão, e isso mexeu somente comigo', lamentou.
Na época, em novembro de 2020, governador do Estado de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), determinou o afastamento imediato de André e toda a equipe que estava naquela noite.
'Um ano depois só posso dizer que ainda estou viva por conta dos meus filhos, porque, para mim, a vida hoje não tem mais sentido. Ele acabou com minha moral, com minha história de vida. Hoje sou uma mulher totalmente diferente do que fui um dia', completou.
O caso
No ano passado a mulher também deu entrevista ao Correio do Estado e contou sua versão. Ela relatou que ganhou passagens para Bonito do marido e foi com as três filhas para o município na sexta-feira, mas só conseguiu reservar a pousada para sexta e domingo, pois no sábado o local já estava lotado.
“Viemos para a cidade e procuramos pousada. Procurava em uma e eles indicavam outra, fui em três até que indicaram essa última na qual tinha vaga e me hospedei nela'.
Quando chegou na pousada, a família foi para o restaurante em frente ao local para jantar e comprou quatro refeições. A dona do restaurante pediu para que o pedido fosse buscado após meia hora.
“Fui para a pousada, tomei banho e dei banho na bebe e ela já começou a surtar querendo a comida. Fui até o restaurante e perguntei se já estava pronto os pratos, ela falou só um minuto e entrou na cozinha'.
A mulher agredida explica que quando a funcionária do restaurante voltou se recusou a atende-la e disse que não entregaria o pedido que fez. Ela também começou a gritar e empurrar a vítima de agressão.
“Quando ela me empurrou eu caí no chão, com a bebê, ai deixei minha bebê no chão e fui para cima dela. Minha filha vendo isso veio e falou ‘mãe não precisa, vamos para casa’. Fomos para o apartamento, aí demorou 5 a 10 minutos a polícia chegou'.
A polícia chegou no apartamento e a mulher explicou que precisava de alguns minutos para acalmar a filha, que possui autismo. Nesse momento, o policial militar, Leonel, a puxou pelo cabelo e levou a mulher até o camburão.
“Lá na frente a dona do restaurante estava ali e falou ‘você não vai prender ela?, você veio só para ficar olhando?, não vai prender essa vagabunda?’, falei que ela não me conhecia para me xingar e o policial me mandou calar a boca', relata.
Antes de ser levada a delegacia, a vítima pegou o celular para ligar para o marido, também PM. O tenente pegou o telefone, jogou no chão e mandou ela calar a boca. Então, os policiais a algemaram e levaram para a delegacia.
“No caminho ele foi me falando que eu fazia programa, que ele já sabia da minha vida e eu falei que ele não me conhecia e que era para chamar meu marido. Aí ele abriu o camburão e meu mais um tapa e falou ‘cala boca’', detalha a vítima.
Ao chegar na delegacia, o policial afirmou que os filhos da vítima seriam levados pelo Conselho Tutelar. “Eu entrei em desespero porque minha filha não fica longe de mim. Eu falei ‘me dá meu telefone para eu ligar para o meu marido, na hora que eu levantei, ele me segurou e me empurrou e aconteceu toda aquela cena'.
A mulher explicou que a filha conseguiu falar com o pai quando chegou ao abrigo. O homem estava em Corumbá e chegou em Bonito em três horas. Ele buscou as crianças e se dirigiu para a delegacia da Polícia Civil.
“Fiquei ali 48 horas, foram as piores horas da minha vida, ai nesse decorrer ele ligou lá na polícia, tentou falar com o tenente, mas ninguém atendeu ele. Fui sair no domingo a noite, pagamos a fiança de 2 mil reais', explicou a mulher.
A vítima ainda destaca que a acusação da polícia de que ela estava embriagada é falsa. “É mentira, tudo isso foi porque eles não tinham como me conter presa, a mando da senhora do restaurante, eu acredito que como ela dá comida de graça para eles, ela cobrou uma posição'.
Com a violência, a mulher ficou com hematomas no peito, nas costas, no braço, e dor nas costas por causa do chutes do policial.
“Ninguém me bateu a não ser o Leonel, ninguém encostou em mim a não ser o Leonel. Ele que a todo momento me espancou, nem me bateu, me espancou'.