Bilhetes apreendidos com um preso na Penitenciária de Avaré (SP) indicam que o PCC (Primeiro Comando da Capital) gastou R$ 640 mil em um plano para cometer atentados contra autoridades do MP-SP (Ministério Público Estadual), Polícia Federal e Polícia Civil de São Paulo.
Segundo consta nas mensagens, os alvos são um promotor de Justiça, um delegado da Polícia Federal, um delegado da Polícia Civil que atua na região da Cracolândia, na capital paulista, e outro delegado amigo deste último, responsável por investigações sobre facções criminosas.
Policiais penais apreenderam quatro bilhetes na cela do preso. Um deles traz o total de “investimentos” feitos pelo PCC para colocar em prática as ações terroristas. Os nomes dos alvos dos ataques aparecem em números, mas foram decodificados e identificados pela inteligência do sistema prisional.
Em um dos bilhetes há informações de que o PCC gastou R$ 100 mil em drones para monitorar e espionar as autoridades ameaçadas. Outros R$ 80 mil foram usados na compra de passagens áreas para os criminosos escolhidos pela facção para pôr em prática os ataques.
Há menções ainda de que foram desembolsados mais R$ 50 mil com carros e R$ 130 mil com o aluguel de um apartamento em uma cidade do interior, na região Oeste do estado, onde mora um dos alvos. Mais R$ 30 mil foram gastos com a locação de uma casa no Noroeste paulista.
No final do bilhete consta que R$ 250 mil foram usados na aquisição de bananas de dinamite e C4, um explosivo usado por grupos terroristas internacionais com forte poder de destruição.
Em outra mensagem um faccionado do PCC reclama da demora na realização dos atentados, planejados para 2018, diz que a facção está com arsenal de guerra e não deu um tiro e pergunta: “Por que não foram estourados os fogos?”, ou seja, por que as autoridades ainda não foram assassinadas.
O faccionado adverte que se não forem tomadas providências com urgência, ele vai pedir ajuda para os amigos de outro estado. As autoridades desconfiam que “essa ajuda” pode ser de integrantes do PCC radicados na região Centro-Oeste do país.
Dinamite e explosivo C4
Em outro trecho, o faccionado diz compreender a dificuldade para atacar os representantes do Ministério Público e da Polícia Federal, mas relata que em relação aos dois delegados da Polícia Civil de São Paulo, não haveria problemas em concretizar tal ação.
Segundo o faccionado, qualquer dependente químico poderia atacar o delegado que atua na Cracolândia: “Basta colocar um noia para apagar o farol dele”, diz uma linha do bilhete.
O autor da mensagem afirma ainda que o PCC recebeu pedaços de C4 e explica que são poucos os integrantes da facção criminosa que sabem manipular o explosivo. Ele pede aos faccionados para que “instruam uma amiga a manusear o material” e encerra dizendo que “assim que tivermos o retorno vamos por os planos em ação”.
O preso flagrado com os bilhetes na cela foi trazido para São Paulo e ouvido no Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), unidade da Polícia Civil.
Ele negou a posse das mensagens, disse não saber nada a respeito, afirmou não pertencer a nenhuma facção criminosa e se comprometeu em fornecer material gráfico para tentar provar que não é o autor dos manuscritos.
O prisioneiro pode ser denunciado pelo Ministério Público à Justiça pelos crimes de ameaça e associação à organização criminosa. E também corre o risco de ser transferido para um presídio federal.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados do preso, mas publicará na íntegra a versão dos defensores dele assim que houver uma manifestação.