O glifosato é o agrotóxico mais popular do Brasil. Ele representa 62% do total de herbicidas usados no país e em 2016, as vendas desse produto químico em milhares de toneladas foi superior à soma dos sete outros pesticidas mais comercializados em território nacional.
Associado à produção de soja transgênica, o herbicida contribuiu para que o Brasil se tornasse o maior produtor do grão no mundo, superando os Estados Unidos.
Com isso, o PIB (Produto Interno Bruto) dos Estados produtores cresceu muito acima da economia do país como um todo nas últimas décadas. E a renda gerada pela atividade agrícola movimentou outros setores econômicos nas regiões produtoras.
Mas um estudo realizado por pesquisadores das universidades de Princeton, FGV (Fundação Getulio Vargas) e Insper revela que essa geração de riqueza tem um alto custo: segundo o levantamento, a disseminação do glifosato nas lavouras de soja levou a uma alta de 5% na mortalidade infantil em municípios do Sul e Centro-Oeste que recebem água de regiões sojicultoras.
Isso representa um total de 503 mortes infantis a mais por ano associadas ao uso do glifosato na agricultura de soja.
"Há uma preocupação muito grande quanto aos efeitos dos herbicidas sobre populações que não são diretamente envolvidas com a agricultura, que não estão diretamente expostas aos agrotóxicos", observa Rodrigo Soares, professor titular da Cátedra Fundação Lemann do Insper e um dos autores do estudo, ao lado de Mateus Dias (Princeton) e Rudi Rocha (FGV).
"Apesar dessas substâncias estarem presentes no corpo de mais de 50% da população ocidental, não sabemos se isso é danoso ou não", acrescenta o pesquisador.
"Nosso artigo é um dos primeiros a mostrar de forma crível que isso deve ser de fato uma preocupação, ao demonstrar a contaminação através dos cursos de água em áreas distantes das áreas de uso, de uma maneira que nunca havida sido feita anteriormente”.
A Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), afirma que "as conclusões apontadas no estudo não parecem serem sustentadas com os fatos científicos e realidade constatada na prática da agricultura brasileira".
Por fim, a CropLife Brasil, uma das entidades que representam o setor de defensivos agrícolas no país, destacou em nota que "há mais de 40 anos, o glifosato tem passado por extensos testes de segurança, incluindo 15 estudos para avaliar a toxicidade potencial para o desenvolvimento humano e 10 estudos para avaliar a toxicidade reprodutiva potencial".
"As autoridades regulatórias no Brasil, na Europa, nos EUA e em todo o mundo revisaram esses estudos e concluíram que o glifosato não representa risco para o desenvolvimento humano ou reprodução humana", afirma a organização.