A corrosão gradual do rendimento médio dos trabalhadores do país, apontada sexta-feira (28) pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, mostra que um brasileiro empregado em fevereiro de 2012, quando começou a série histórica, recebia o dobro de salários mínimos pagos em novembro de 2021, último mês apurado. Eram quatro há nove anos, e caiu para dois.
Na divulgação da Pnad, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o rendimento médio do trabalhador apurado no trimestre de setembro a novembro do ano passado era o menor da série histórica do índice, iniciada com a divulgação do período de janeiro a março de 2012.
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Nove anos atrás, quando o salário mínimo do país estava em R$ 622, os trabalhadores empregados ganhavam em média R$ 2.492 por mês, quatro vezes mais que o piso.
Em novembro de 2021, enquanto o piso nacional estava em R$ 1.100, o holerite apontava média inferior a de nove anos atrás: R$ 2.444, ou 2,2 mínimos.
A situação fica mais grave se for considerado o mínimo válido desde janeiro de 2022, de R$ 1.211. Nesse caso, a proporção cai para 2,0.
O IBGE informou ainda que o rendimento apurado entre setembro a novembro de 2021 caiu 4,5% frente ao trimestre anterior e recuou 11,4% em relação ao mesmo período de 2020.
“Isso significa que, apesar de haver um aumento expressivo na ocupação, as pessoas que estão sendo inseridas no mercado de trabalho ganham menos. Além disso, há o efeito inflacionário, que influencia na queda do rendimento real recebido pelos trabalhadores”, explica a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.
A defasagem, como disse a pesquisadora, é gritante se for considerado o desgaste que a inflação dessa quase uma década causou nesses valores. A calculadora do Banco Central aponta que o período teve inflação de 76,71%, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), índice que o governo federal usa para quantificar o aumento de preços no país.
Para que o trabalhador brasileiro continuasse ganhando o equivalente aos R$ 2.492 que recebia em média em março de 2012, hoje precisaria levar para casa pelo menos R$ 4.403 (R$ 1.959 de diferença em relação ao que se pagou há dois meses).
Usando a mesma calculadora, mas agora pensando na correção pelos 130% de variação detectados pelo IGPM (Índice Geral de Preços do Mercado), da Fundação Getulio Vargas, o rendimento médio dever ir a R$ 5.731, ou 2,3 vezes mais que os R$ 2.444 de novembro. O indicador é o utilizado para reajustar anualmente os aluguéis, despesa da maior parte dos trabalhadores brasileiros.