O empresário Luciano Hang vai prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quarta-feira, 29. Ele é um dos principais apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e incentivador do chamado “tratamento precoce”, composto por medicamentos sem eficácia comprovada ou contraindicados para tratar casos do novo coronavírus. A convocação foi feita a pedido do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Na semana passada, um dossiê elaborado por 15 médicos que afirmam ter trabalhado na Prevent Senior apontou que a declaração de óbito da mãe do empresário, Regina Hang, foi “fraudada” e “omitiu o real motivo do falecimento”, que seria por covid-19.
“Estou indo na CPI com o coração aberto”, disse Hang em vídeo divulgado na segunda-feira em sua rede social. Na gravação, o empresário, em uma referência à possibilidade de ser preso durante a audiência, aparece com um braço algemado.
Hang é fundador da rede de lojas Havan, inaugurada em seu Estado natal, Santa Catarina, e conhecida por exibir, em sua fachada, uma réplica da Estátua da Liberdade. O empresário começou a ganhar destaque em 2016, quando ele, que se diz antipetista, decidiu estrelar a campanha “Quem é o dono da Havan?”. A estratégia de marketing tinha o objetivo de acabar com boatos de que a loja era propriedade dos filhos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Durante a pandemia, ao lado de Carlos Wizard, o catarinense liderou um grupo de empresários interessados em comprar vacinas contra a covid-19 para imunizar seus funcionários. O grupo publicou um abaixo-assinado para pressionar pela mudança da lei que libera a aquisição de imunizantes pela iniciativa privada, desde que sejam doados para o Sistema Único de Saúde (SUS). Eles queriam que a legislação permitisse a compra de imunizantes pelas empresas, mas sem a contrapartida ao sistema público de saúde. O projeto de lei passou na Câmara em abril, mas ainda aguarda análise do Senado.
Além de investigado pela CPI da Covid, Hang também é suspeito de disseminar fake news e discurso de ódio na campanha eleitoral de 2018, em favor de Bolsonaro. Ele teve celular e documentos apreendidos por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que também ordenou a quebra dos sigilos fiscal e bancário do empresário entre julho de 2018 e abril de 2020.
Ainda em 2018, o Ministério Público do Trabalho de Santa Catarina (MPT) ajuizou ação civil pública cobrando R$ 25 milhões em indenizações contra a rede Havan, acusada de intimidar funcionários para votar em Bolsonaro. De acordo com a Procuradoria, o empresário teria declarado diversas vezes que fecharia milhares de postos de trabalho caso o então candidato do PSL à Presidência perdesse as eleições.
A CPI da Covid também investiga Hang por disseminação de fake news. Como revelou o Jornal Nacional, da TV Globo, a comissão obteve mensagens que indicam que ele patrocinou um programa do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, após ajuda do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O empresário negou que tenha patrocinado programas e canais acusados de espalhar desinformação.