Uma pesquisa sobre a relação dos brasileiros com o mar revelou que cerca de 10% da população nunca foi à praia. Entre os que frequentam praias, metade só as visita uma vez ao ano ou menos. Além disso, 40% dos entrevistados disseram acreditar que suas ações no dia-a-dia não têm nenhum impacto na conservação do oceano. A pesquisa, realizada pela Fundação Boticário em parceria com a Unesco e a Unifesp, foi divulgada nesta quinta-feira (30) em um evento paralelo da Conferência do Oceano da ONU, em Lisboa.
O estudo, que contou com 2 mil entrevistas em todas as regiões do Brasil, também avaliou o conhecimento dos brasileiros sobre outros ambientes costeiros ou marinhos, para além das praias.
Os recifes de corais, por exemplo, que estão ameaçados por efeitos da mudança climática, como elevação da temperatura do mar e acidificação, são um dos ecossistemas que a população mais ouviu falar, mas que menos visitou pessoalmente. Embora 80% dos entrevistados conheçam recifes de corais, 75% nunca visitaram, de fato, este ambiente.
Segundo pesquisadores brasileiros, a falta de conhecimento da população sobre o mar é uma barreira para que ações concretas de conservação oceânica tenham maior impacto e alcance.
“O oceano começa na nossa casa, mesmo que estejamos a muitos quilômetros de distância do mar. Como boa parte das pessoas tem pouco contato direto com os ambientes marinhos, esta percepção precisa ser estimulada", explicou o professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ronaldo Christofoletti.
Conferência do Oceano da Organização das Nações Unidas (ONU) é realizada em Lisboa, Portugal, em junho de 2022 — Foto: Patrícia Figueiredo/g1
Em entrevista ao g1, o coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, Alexandre Turra, também ressaltou a chamada promoção da cultura oceânica.
“A promoção de cultura oceânica é fazer com que o oceano chegue na cabeça, no coração e na alma das pessoas. A gente tem um desafio enorme que é levar a importância do mar até essas pessoas [que nunca foram à praia] também”, disse Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Apesar do destaque para a criação dessa cultura de preservação durante a Conferência do Oceano da ONU, a pesquisa divulgada nesta quinta (30) mostrou que a população brasileira está pouco informada sobre as ações promovidas pela comunidade internacional para a conservação do mar.
93% dos entrevistados nunca ouviram falar da Década do Oceano, marco criado pela ONU para designar o movimento global de engajamento sobre o tema entre 2021 e 2030.
Cultura oceânica
Responsável por cobrir mais de 70% da área do planeta, o oceano é essencial para a manutenção da vida na Terra, mas sua saúde está em perigo – este alerta é o principal foco da Conferência do Oceano da ONU, que ocorre em Portugal até esta sexta (1º).
O evento reúne delegações de diversos países para promover o desenvolvimento de ações concretas, tanto de países como de instituições privadas, para que as metas da Agenda 2030, também conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), sejam atingidas. No caso do oceano, trata-se do ODS 14, Vida no Mar, que inclui compromissos como a de reduzir significativamente a poluição marinha até 2025.
Lixo boia em praia da Ilha do Governador, na Baía de Guanabara — Foto: Marcos Serra Lima/g1
Além de fornecer alimento e trabalho, o oceano também tem um papel fundamental na regulação climática do planeta: é ele que garante que a temperatura da Terra fique em níveis adequados para a sobrevivência de diversas espécies, inclusive o homem.
Mas, por conta da ação humana, os mares têm sofrido diversos desafios, que passam pelo aumento da poluição, causada principalmente por plásticos, e também pela elevação da acidez da água, provocada pela alta nas emissões de carbono na atmosfera.
Esta reportagem foi produzida no âmbito da 2022 UN Ocean Conference Fellowship, organizada pela Earth Journalism Network da Internews com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian (Reino Unido).