A única certeza da vida é a morte. Praticamente todo mundo já ouviu essa máxima e ela é totalmente verdadeira. Mas no mundo em que vivemos hoje, nós não estamos presentes apenas no mundo “real”. Também nos fazemos presentes no mundo online com as mais variadas contas. E você já se perguntou para onde vão seus dados depois que você morre?
O novo documentário a respeito de Anthony Bourdain, chamado “Roadrunner”, é um entre vários projetos dedicados ao chef, escritor e personalidade da televisão. Contudo, a produção chamou atenção das pessoas, em parte, por conta da sua sutil dependência da tecnologia de inteligência artificial.
Uma empresa de software usou várias horas de gravação da voz de Bourdain para criar um novo áudio dele exclusivo para o documentário. A voz da IA soa como se fosse Bourdain falando diretamente do além. Em um determinado momento do documentário ele “lê” um e-mail que escreveu antes da sua morte em 2018.
“Quem assiste ao filme provavelmente não sabe quais são as outras falas ditas pela IA além dessa que você mencionou, e nem vai ficar sabendo. Podemos fazer um painel de ética documental sobre isso mais tarde”, afirmou Morgan Neville, o diretor, em uma entrevista ao “The New Yorker”.
Implicações
Esse momento ético parece ser necessário o quanto antes. Já que os mortos estão sendo “ressuscitados” digitalmente com uma frequência cada vez maior. Eles voltam à vida como projeções 2D, hologramas 3D, renderizações de CGI e bots de bate-papo baseados em IA.
Um dos que chamou mais atenção recentemente foi o holograma que Kanye West deu para Kim Kardashian de aniversário, onde o falecido pai da empresária a parabenizava. O holograma de Robert Kardashian foi treinado com gravações de áudio reais, mas disse coisas antes nunca ditas.
Por mais que outros exemplos tenham sido feitos com pessoas também famosas, existem implicações para as pessoas “comuns”. Isso porque, praticamente todo mundo tem uma identidade online que irá continuar mesmo depois que a pessoa morrer. E determinar o que fazer com esses dados pode ser uma das grandes questões éticas e tecnológicas da atualidade.
De quem são os dados?
Desde que a internet se tornou praticamente o centro da vida das pessoas, a quantidade de dados que os humanos criam diariamente tem aumentado de forma vertiginosa. A cada minuto, as pessoas fazem mais de 3,8 milhões de buscas no Google e enviam mais de 188 milhões de e-mails. E tudo isso acontece ao mesmo tempo em que elas estão sendo rastreadas por várias formas de vigilância digital.
Os dados produzidos pelas pessoas são tantos, que os filósofos agora acreditam que a personalidade não é mais uma equação de corpo e mente. Mas que também deve ser levado em conta o ser digital.
Quando as pessoas morrem elas deixam para trás cadáveres de informação. Eles são feitos de e-mails, mensagens de texto, perfis de redes sociais, buscas e comportamento de compras online.
Esses dados agregados dos mortos nas mídias sociais representam um arquivo de valor humanitário significativo. Ele é um recurso histórico primário como nenhuma outra geração deixou para trás. E de acordo com o especialista em ética digital Carl Ohman, devemos tratá-lo como tal.
No futuro, as pessoas poderão usar esses dados para aprender sobre grandes momentos culturais que se desenrolaram online. Como por exemplo, a Primavera Árabe e o movimento #MeToo. Além de “fazer leituras qualitativas dos indivíduos que participaram desses movimentos”, sugeriu Ohman.
widget de imagem