Um fotógrafo e agenciador de modelos de Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina, é alvo de uma investigação da Polícia Civil por supostamente produzir e vender fotos sensuais de crianças e adolescentes e por assediá-los sexualmente. Mais de 80 vítimas já denunciaram o fotógrafo.
Amanda* descobriu que suas fotos, feitas em 2019 para uma marca de biquínis, estavam sendo vendidas em um site associado à pornografia infantil.
Na plataforma, as fotos e os vídeos de várias crianças e adolescentes, incluindo as de Amanda, são anunciadas em dólar por valores que variam entre US$ 10 a US$ 30 por conteúdo. São imagens das modelos vestindo biquíni e shorts com a descrição da idade de cada uma e os nomes trocados.
O ensaio de Amanda foi feito em 2019, após ela ter sido convidada pelo investigado para um ensaio no estúdio dele, no Centro de Balneário Camboriú. As fotos eram feitas para uma marca de roupas de banho, inicialmente, sem remuneração. Depois, a modelo passou a receber
R$ 300, além de peças de biquíni e roupas como pagamento pelas fotos.
Foi uma amiga que contou para Amanda que as fotos dela estavam sendo vendidas. Um perfil anônimo teria denunciado o site e alertado as jovens.
Outra modelo relata que sofreu assédio durante o ensaio. “No último ensaio ele tentou me beijar. Ele foi bem claro nas palavras: ‘te torno miss, mas tem que deixar eu cuidar de você’, e colocou a mão nas minhas partes íntimas”, relata a vítima. “Depois disso, nunca mais apareci lá”.
“Insistia em dizer que antigamente podia se relacionar com meninas mais novas”
Carla* alega que tinha 19 anos quando começou a ser fotografada pelo suspeito. Ela conta que foi acompanhada no primeiro ensaio, mas que o fotógrafo não tinha gostado porque “o acompanhante tirava a atenção da modelo”. Ele também pedia para que as meninas não usassem sutiã, pois “marcava na roupa”.
A modelo tinha que se trocar em um espaço com espelhos e uma câmera que, segundo o fotógrafo estaria inativa. Já no ensaio, Carla relembra momentos traumatizantes. “Ele pediu para eu encostar na parede, fechar os olhos, imaginar cenas excitantes e tentar soltar os lábios aos poucos para fazer o famoso carão. Ele se aproximou de mim a ponto de quase dar um beijo, era possível sentir sua respiração, eu permaneci imóvel e com muito medo, foi então que ele começou a tocar nas minhas partes íntimas e eu saí imediatamente”, relata.
Com medo de não conseguir realizar o sonho de ser modelo, Carla conta que passou a fazer os ensaios com o fotógrafo apenas em público e que reforçava, a todo momento, que namorava no intuito de impedir que ele tentasse tocá-la novamente.
“Ele fez muito a minha cabeça dizendo que eu tinha potencial e que se ficasse com ele, ele poderia me levar longe, me fazer crescer na carreira, e que todas as garotas que ele levou para o miss tinham passado por isso. Assim, eu poderia estar perdendo uma chance que eu nunca mais teria. Eu acreditei nisso”.
“Ele falava muitas atrocidades, insistia em dizer várias vezes que essa geração era muito mimimi e que antigamente podia se relacionar com meninas mais novas, que meninas já são mulheres. Ele sempre deixou muito claro seu desejo pelas meninas que fotografava. Eu nunca mais fiquei sozinha com ele”, relata. Para se recuperar do trauma, Carla precisou fazer terapia.
Fotos sensuais e o sonho de ser modelo
Maria*, de 17 anos, conta que na primeira sessão de fotos com o suspeito, ele pediu que ela levasse um “shortinho bem curtinho”. O ensaio aconteceu no final de 2020.
“Assim que eu cheguei lá, ele sentou para conversar comigo e com minha mãe. Falou que modelos não são tímidas, que trocam de roupa na frente das pessoas, não têm vergonha, que deixava tocar nelas para arrumar as coisas no corpo. Disse que modelo não tinha frescura”, relata a adolescente.
A promessa era de que as fotos de Maria seriam usadas para inscrevê-la em concursos de Miss. “Ele falava as poses para eu fazer: mão no cabelo, empinar o bumbum, deitar no chão”, relembra.
“Eu estava tão feliz porque meu sonho era ser modelo”, relata.
Maria conta que as trocas de figurinos eram feitas em uma parte do estúdio cheia de caixas e roupas, em um local cheio de espelhos, e que enquanto ela se trocava, o fotógrafo ficava no computador.
Maria também conta que quando a mãe tentava ajudar nas poses, o fotógrafo não deixava e dizia que ela estava “atrapalhando a luz”.
Maria conta que algumas fotos foram feitas na praia e que ela foi acompanhada do padrasto por ser menor de idade. As trocas de roupa eram feitas no carro do fotógrafo, apesar de ela ter pedido para que fossem feitas no banheiro de um quiosque.
Outra denúncia é de uma mãe, que levou a filha, Clara*, para um ensaio. Com 9 anos na época, a menina já havia participado de concursos de Miss. O fotógrafo teria sugerido que as fotos fossem feitas de biquíni, mas, como estava frio, as fotos foram feitas com shorts.
“Ele quis entrar no banheiro para ajudar na troca de roupa, mas eu disse que eu ajudava e que quando ela saísse ele veria o figurino”, conta a mãe. Durante o ensaio, o fotógrafo teria pedido para Clara fazer “uma cara sexy”, mas a mãe questionou o motivo do pedido, afirmando que “criança tem que fazer cara de criança”, conta.
Depois que as fotos foram entregues e publicadas pela mãe em uma rede social, ela descobriu outras denúncias contra o fotógrafo. “Chegou o momento de fazer algo”, conta.
Investigações
De acordo com o delegado Eduardo Dallo, da Polícia Civil de Balneário Camboriú, uma investigação está em andamento. Os detalhes não foram revelados, mas ele afirmou que já foram instaurados dois inquéritos.
Uma segunda investigação foi encaminhada à PF (Polícia Federal) por se tratar de pedofilia internacional. A PF, no entanto, não passou informações sobre as investigações.
A reportagem entrou em contato com o fotógrafo Jorge Moura diversas vezes por telefone na tarde desta quarta-feira (30) e na manhã desta quinta (31), porém, não obteve resposta até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para o posicionamento da defesa.
*Os nomes das vítimas foram alterados para proteger a identidade das crianças e adolescentes envolvidas.